Bolo-Rei, símbolo de Natal e de tradição.
Na mesa de doces de Natal esta iguaria em forma de coroa, é o rei da festa, em todo o seu esplendor. Uma delicia ao olhar e ao paladar.
Tornou-se uma tradição de Natal e está enraizada na cultura portuguesa há mais de um século.
Lenda e tradição
De acordo com a lenda, o bolo-rei foi criado para homenagear os Reis Magos. Por isso possui uma forma redonda com um grande buraco no meio, enfeitado de frutos secos e cristalizados, de cores variadas. Desse modo assemelha-se a uma coroa incrustada de pedras preciosas.
Esta doce iguaria representa ainda os presentes que os três Reis Magos deram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: assim, a côdea simboliza o ouro. As frutas, cristalizadas e secas, representam a mirra. Por fim, o aroma intenso do bolo assinala o incenso.
Durante muito tempo, o bolo-rei escondia a fava ou brinde. Quem recebia a fatia com a fava tinha que comprar o bolo do próximo ano e muitos dentes se partiam no brinde de metal. Esta tradição que se perdeu no tempo, vinha de rituais pagãos: o brinde uma descendência da ideia de encontro com Caronte (o mítico barqueiro de Hades que transporta as almas mortas ao seu destino e exige um pagamento) e a fava da tradição romana de eleger o rei da festa com o sorteio desta planta.
História e Origens
Apesar dos antigos registos históricos, os primeiros grandes vestígios deste doce de massa lêveda adornado com frutas cristalizadas, surgiram em França, no século XVI, durante o reinado de D. Luís XIV, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis.
Em Portugal
O gâteau des rois (bolo dos reis) popularizado em Portugal no século XIX segue uma receita originária do sul de Loire, um bolo em forma de coroa feito de massa lêveda.
Numa visita a França, o filho do fundador da icónica Confeitaria Nacional, na Baixa Lisboeta, ficou maravilhado com este bolo e contratou Gregoire (ou Gregório, como ficou conhecido pelos portugueses), um confeiteiro francês, para adaptar a receita do gâteau des rois (bolo dos reis).
Confeitaria Nacional
Em 1869, a Confeitaria Nacional tornou-se a primeira “casa” em Portugal a vender o bolo-rei que hoje conhecemos.
Mais tarde, foram várias as pastelarias que adotaram a receita e passaram a comercializá-la.
Variantes do bolo
Por sua vez, o gâteau des rois remonta a tempos romanos, mais precisamente aos festivais de celebração de Saturno (o deus romano da abundância) que decorriam por volta do solstício de inverno. Acredita-se que esta seja também a origem do bolo-rei espanhol, o roscón de reyes, consumido no Dia de Reis. Ao longo dos anos, as diferentes versões deste bolo passaram a ser atribuídas à lenda cristã dos Três Reis Magos (Baltasar, Gaspar e Melchior). Esta associação espalhou-se a países de tradição cristã como Alemanha e Suíça, onde é conhecido como dreikönigskuchen (bolo dos três reis).
Roscón de Reyes
Proibição
Curiosamente, devido ao nome e à conotação com a realeza, o bolo dos reis foi proibido após a Revolução Francesa, em 1789, tendo os pasteleiros mudado o nome do bolo para Gâteau des Sans-culottes para o poderem continuar a confeccionar. Em Portugal, depois da proclamação da República em 1910, a proibição do bolo-rei esteve também prestes a acontecer e muitos tentaram mudar o seu nome, mas sem sucesso.
Variações
O Bolo-Rei continua a ser o símbolo máximo da gastronomia na quadra natalícia e apesar de terem aparecido entretanto variações da receita (bolo rainha, bolo rei de chocolate, bolo rei com ovos moles, bolo rei entrançado ou trança de natal, bolo rei escangalhado) o tradicional continua a ter o seu trono assegurado.
Bolo Rainha
Há outro elemento comum, e que se mantém até aos dias de hoje: seja no Natal, no Ano Novo ou no Dia de Reis, em França, Portugal ou qualquer outro país, o bolo-rei simboliza momentos de partilha, convívio e celebração.
Receita do Bolo-Rei tradicional
Primeira massa
• 500gr farinha de trigo tipo 55
• 50gr fermento padeiro
• 2,5dl água
Segunda massa
• 1kg farinha
• 350gr açúcar
• 350gr margarina
• 20gr sal
• 6 ovos
• Raspa de 2 laranjas
• Raspa de 2 limões
Para perfumar a massa Q.B.
• 2,0dl Cerveja preta artesanal
• 2,0dl Licor Beirão
• 2,0dl Licor Anis
• 2,0dl Aguardente
• 2,0dl Vinho do Porto
• 2,0dl Triplesec
• 600 gr frutos cristalizados (em pequenos pedaços)
• 500 gr frutos secos
Decoração
• 1 Ovo
• 1 Gema
• Q.b. Abóbora cristalizada de várias cores
• Figos cristalizados
• Tangerinas cristalizadas
• Cerejas cristalizadas
• Amêndoa Palitada
Torrão de Açúcar
• 100 Açúcar
• 100 Açúcar em Pó
• q.b. Água
Preparação
Comece por amassar a primeira massa, que servirá de fermento. Reserve-a à parte.
Amasse todos os outros ingredientes da segunda massa (exceto os frutos secos e as frutas cristalizadas), por 5 minutos.
Adicione a primeira massa e deixe amassar até que a massa descole da cuba da batedeira.
Estique a massa numa bancada, adicione os frutos secos e os cristalizados. Amasse à mão até que todos estejam bem envolvidos.
Deixe a massa descansar durante a noite no frio.
De manhã, divida em porções e faça um buraco no meio de cada uma para que fiquem com um formato semelhante a um donut e deixe levedar (como se tratasse de um brioche). Uma vez levedados, pincele com a mistura de ovos e gemas.
Decoração
Decore com abóbora cristalizada de várias cores, figos cristalizados, tangerinas cristalizadas, cerejas cristalizadas. Misture os açúcares (decoração) e adicione água o suficiente para criar um bloco de açúcar ao pressionar. Disponha três deles em cima do bolo. Ponha as amêndoas palitadas à volta do bolo onde não houver decoração.
Leve a cozer a 180ºC
(Receita cedida pela Escola de Turismo e Hotelaria de Lisboa, baseada na cozinha tradicional de Maria de Lourdes Modesto)
Fontes de Fotografias/Conteúdo: wikipedia, olissiphotels.com, tavi.pt, be-the-story.com, visitportugal.com, El Mundo, lojascomhistoria.pt, sinalAberto, Pingo Doce
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