Criada há mais de 60 anos, a mini-saia foi a peça que marcou a Liberdade e a Emancipação da mulher.
História e Contexto político e social
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve uma explosão de nascimentos de bebés, os famosos “baby boomers”.
Na década de 60, o mundo estava cheio de jovens a “gritar” por mudanças e a viverem o movimento da contracultura, que foi o responsável por contestar padrões conservadores da época.
Protestos nos anos 60 // americanarchive.org
Ainda nesse período, outros acontecimentos foram fundamentais para o espírito revolucionário desses jovens: a ida do homem à Lua, a segunda onda do feminismo e a comercialização da pílula anticoncepcional nos Estados Unidos.
A moda e as tendências sempre foram um reflexo do comportamento das épocas, ao longo de toda a história da humanidade. Ou seja, as roupas mudam conforme surgem novos valores da sociedade e, neste caso concreto, existia um contexto jovem de insatisfação política.
Contexto económico
Foi também em meados de 1960 que a alta-costura, caracterizada por peças luxuosas feitas sob medida, entrou em declínio e o prêt-à-porter caracterizado pela produção em larga escala, teve a sua ascensão. Por consequência, a saia longa precisava de perder pano para se tornar mais funcional e mais barata para um grupo de mulheres jovens e feministas.
Origem da mini-saia
No entanto, a origem da mini-saia ainda é incerta. Os historiadores não têm certeza sobre quem realmente criou ou começou a produzir as mini-saias. Porém, dois estilistas considerados precursores desta peça ficaram em destaque: a britânica Mary Quant (1930-2023) e o francês André Courrèges (1923-2016).
Mary Quant // http://nytimes.com
Foi entre 1965 e 1970 que a mini-saia ficou mais popular.
Carnaby Street, nos anos 60 era o Centro da cultura pop emergente, esta rua londrina fervilhava de ideias inovadoras. Jovens com roupas coloridas percorriam esta rua, para cima e para baixo, não deixando ninguém indiferente. Foi precisamente aqui que a jovem Mary Quant, estilista britânica e fundadora da Bazaar (loja de moda que criava peças que refletiam o espírito jovem da cidade), deu a conhecer ao mundo uma peça de roupa que, rapidamente, se tornou famosa – a mini-saia.
E livremente as pernas saíram para a rua…
Mary Quant era fã do carro “Mini” e por isso a saia, tem esse nome.
Para esta estilista, a moda era tudo menos aborrecida. Os jovens deviam vestir roupa adequada à sua própria personalidade e espírito. Nada de imitar os mais velhos – o que se queria era um vestuário divertido, irreverente e, também, barato.
Mary Quant sempre afirmou que foram as próprias jovens de King’s Road que inventaram a peça, que esta era fácil de vestir, simples e juvenil. Que se poderiam mover livremente, saltar e correr atrás dos autocarros. Proferiu ainda, que apenas começou a fazer a barra da altura que as jovens queriam: bem curtas!
André Courrèges // ledevoir.com
Nesse período, o francês André Courrèges, que também é considerado um pioneiro da mini-saia, inventou o vestido trapézio e em 1965, lançou a “Mod Collection”.
Yves Saint Laurent e Pierre Cardin também fizeram coleções com a mini-saia.
A Revolução
Naquela época, o desejo de liberdade era enorme. Foi o auge dos Beatles e da queima de sutiãs. E sim, a famosa mini-saia estava presente entre as 400 ativistas do grupo Women’s Liberation Movement que se reuniram durante o Miss América de 1968 para queimar sutiãs e outros objetos que simbolizavam a beleza feminina. Sem dúvidas, um marco histórico!
Imagem: http://modahistorica.blogspot.com
Antes da mini-saia, a roupa era usada para esconder as mulheres de “apetites” masculinos, só que tais roupas não eram práticas e dificultavam os movimentos. A mini vinha como uma opção rápida e prática de se vestir, tornando a moda mais divertida e decretando a morte da austeridade convencional.
A mini-saia desde logo foi motivo das mais diversas opiniões. Se havia quem a considerasse como uma grave ofensa aos bons costumes, outros havia que a idolatravam.
O que é certo é que uma mini-saia e umas botas pelo joelho foram, rapidamente, adotadas pelas raparigas mais jovens, sedentas de algo que quebrasse com todas as tradições. Depois de séculos com as pernas cobertas, elas eram agora mostradas sem pudor, tal como são.
Imagem: Salão Virtual
Lulu e Twiggy foram apenas algumas das modelos que ajudaram a espalhar a invenção de Mary Quant um pouco por todo o mundo. Sob a influência da pop art, motivos dos mais diversos serviam de inspiração para criar as mais irreverentes mini-saias. Meias e collants divertidos completavam o figurino.
Símbolo do feminismo da época, a mini-saia, era uma forma de se manifestar, de reivindicar a sensualidade e a sexualidade. Isto, desagradava aos pais das jovens, que as proibiam de as usar. Mas não resultava, porque elas simplesmente cortavam os seus vestidos!
A mini-saia era algo tão novo que quando a peça chegou aos Estados Unidos não havia um mercado preparado para a receber, mesmo assim, a juventude americana estava igualmente fascinada e ansiosa pela liberdade, procurando roupas menos rigorosas e uma elegância ousada.
Twiggy // Miniskirt Revolution
Proibição e protestos
A mini-saia chegou a ser proibida em países como a Holanda, houveram protestos contra ela na França. Mas também houve protestos de mulheres a exigir o direito de as usar! Uma peça que alcançou impacto popular porque mostrava um pouco mais do corpo feminino, sempre considerado um “objeto” a ser resguardado, já que os velhos hábitos diziam para as mulheres se vestirem de modo “decente”, afinal elas passavam de ser propriedade dos pais para logo a seguir serem dos maridos. Demoraram muitos anos para os tabus caírem, a revolução de Maio de 1968 ajudou nesse processo.
Manifestação em Paris – Maio de 1968 // MST
Naquela época, existia este espírito de liberdade no ar, as mulheres revelaram os seus joelhos e coxas pela primeira vez, o que foi visto como um sinal de rebeldia e emancipação.
Retrocesso
O ano de 1969 marcou o auge da mini-saia. Mas o encurtamento da peça atingiu o seu ponto de saturação fashion e o retorno das saias e vestidos mais longos tornou-se a melhor alternativa na época. Contribuiram para o efeito o factor cíclico da moda, mas também, as variações dos valores sociais. Aos poucos, a obsessão jovem e a revolução sexual, iniciada na década de 1960, começou a pluralizar-se e a distanciar-se do culto do corpo quase sempre magro e exposto.
Regresso rebelde
Então, a partir da década de 70, a mini-saia foi incorporada novamente à moda, só que desta vez associada ao estilo punk. Eram combinadas com meias-arrastão, jaquetas de couro, blusas rasgadas e penteados rebeldes.
Na primavera de 1985, Vivienne Westwood revisitou a peça na sua coleção Mini-Crini, com uma versão supercurta das saias vitorianas, estruturadas por crinolinas (por esse motivo o nome).
Mini-Crini // LACMA
Portanto, desde o seu surgimento e no decorrer dos anos, a mini-saia sempre se manteve na moda.
Por alguns, ela ainda é considerada vulgar, indecente e deselegante. Mas a realidade é que se tornou numa peça clássica, cheia de história, carisma e empoderamento feminino.
Uma peça de roupa que incomoda tanto, só poderia ter nascido e se ter firmado entre os livres e rebeldes: a mini-saia!
Fontes: styleitup.com, modahistorica.blogspot, mulherportuguesa.com, jornalcruzeiro
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