A praia é um dos destinos favoritos quando chega o Verão. Corpos passeiam livremente e descontraídos de fato de banho ou biquini. Mas nem sempre foi assim.
Nas zonas costeiras da Europa a moda de ir a banhos chegou, e Portugal, não foi excepção.
O pudor dos tempos antigos
Foi, com a burguesia e a aristocracia, ainda nos finais do século XIX que frequentavam as praias e usavam a água do mar para fins terapêuticos.
Touca, meias pretas, sapatos de lona, calções pela barriga das pernas e uma blusa tipo túnica… Esta era a toilette para se ir à praia em 1880.
Para garantir a boa decência, homens e mulheres tinham ainda zonas separadas.
Mostrar a pele? Nem pensar… Isso seria um escândalo. Aliás, ia-se à praia por questões de saúde e não para se ficar bronzeado.
Ir à praia, tornou-se um momento de socialização por toda a Europa e também uma questão de moda.

Fato de Banho, 1890-95 // The Met Museum
A realeza europeia, com pouco para fazer, descobria uma nova forma de passar o tempo e as outras classes sociais também não queriam ficar de parte.
Entretanto, a sociedade e os seus valores foram mudando e a moda balnear também.
Em 1891, os braços desnudam-se e causam um grande escândalo entre os mais puritanos.
Todavia, na primeira metade do século XX assistiu-se a uma redução da quantidade de tecido necessário para ir à praia.
Evolução do Design
Uma redução que não foi pacífica: em 1907, a nadadora australiana Annette Kellerman foi presa em Boston por estar a usar um fato de banho justo, apesar deste a cobrir do pescoço aos pés.

Annette Kellerman // wikipedia.com
Anos depois, em 1913, o designer Carl Jantzen introduziu um conjunto de banho composto por um top e calções, peça que também foi totalmente bem recebida.
De um traje completo, que cobria o corpo da cabeça aos pés, evolui-se para um traje mais simples, mais leve e de tecidos diferentes.
Os fatos de banho em malha para as senhoras e o calção para os homens com ou sem peitilho, tornaram-se no último grito da moda nas praias.
Fato de banho na década de 1920 em Portugal
Da década de 1920 em diante, em Portugal, os fatos de banho, passam a ser vestidos com alça, que deixam ver os braços que caem sobre os pequenos calções.
A exposição do corpo estava, aliás, bastante regulada.
Existiam editais que saiam nas capitanias que regulamentavam as barracas, os toldos e a colocação de barcos dos pescadores.

Fato de banho ao longo dos anos // noticiasmagazine.pt
Haviam também prescrições relativamente à postura, nomeadamente quando à obrigatoriedade de usar fatos que resguardassem o corpo.
As ordens eram acatadas sob o olhar vigilante dos cabos de mar.
Fato de Banho No Mundo
Na década de 1920, mostrar a pele era já menos atrevido, e na década de 1930 exibir as costas e um pouco do tronco era comum.
Dos lindos fatos de banho cortados de Claire McCardell ao aparecimento de estrelas como Jayne Mansfield, Rita Hayworth e Ava Gardner — para não mencionar inúmeras pin-ups e bailarinas — em peças mais reveladoras e, cada vez mais, em duas peças, a natureza do traje de praia aceitável foi mudando continuamente.

Ava Gardner // Daily Mail
No entanto, nesta época, existia um problema: O Código Hays, um conjunto de regras impostas em Hollywood a partir de 1934, que proibia a exposição do umbigo em filmes, pelo que todas as partes inferiores da roupa de praia (mas não só) necessitavam de ser de cintura subida.
O Fato de banho nas suas múltiplas variantes, tornou-se um objecto de moda e produto de consumo.
História do Biquíni ou Bikíni
Na antiguidade, existem registos anteriores do uso de algo semelhante a um biquíni.
Mosaicos romanos do século IV, em que um deles, mostra duas mulheres a usar uma faixa para cobrir os seios e uma tanga na parte debaixo, usado nessa época, para praticar desporto.
Curiosamente esses modelos eram muito mais ousados do que aqueles que vimos surgir algumas centenas de anos depois!

Louis Réard // universityoffashion
Com o passar do tempo, a partir da década de 1920, versões da peça começaram a surgir, mas nada se compara com a criação e design de Louis Réard: o biquíni que teve o efeito de uma bomba na sociedade da época.
Biquíni = Bombástico
O fim da II Guerra Mundial trouxe consigo uma revolução nos costumes.
Depois de 5 anos de um conflito devastador, as pessoas queriam voltar a viver a sua vida, a divertirem-se.
1946, é a data fatídica. Louis Réard, um engenheiro mecânico e designer de roupas francês, apresenta na piscina Molitor de Paris, um conjunto de duas peças, em algodão estampado, que cabiam num cubo de apenas 10 cm.
Chamou-lhe biquíni em homenagem ao Atol de Bikini, no Pacífico, lugar onde foi testada a primeira bomba atómica.
As reações não se fizeram esperar: considerado como imoral, foi proibido em piscinas públicas, em países como Portugal ou Espanha e nos filmes de Hollywood.
Outro francês de nome Jacques Heim também não quis ficar atrás e desenhou o “Atome”, um modelo ainda mais pequeno.

Atome // dsigno.es
Louis Réard respondeu com um biquíni ainda mais reduzido.
O biquíni do designer Louis Réard era composto por duas peças separadas, uma para a parte de cima e outra para a parte de baixo, que revelavam mais pele do que os trajes de banho tradicionais, o que foi um passo muito importante para a moda de praia que hoje conhecemos.
Este primeiro biquíni de duas peças foi feito com o objetivo de ser ousado e provocativo, desafiando as normas sociais da época.
Mentalidade da época
Na época, modelos recusaram vestir a peça, tornando Micheline Bernardini, “stripper” e bailarina do Casino de Paris, a primeira mulher a posar com ela. Com uma piscina como pano de fundo, a jovem de 19 anos aparece nas fotos com um biquíni estampado com o desenho de uma página de jornal.

Micheline Bernardini // welt.de
Inicialmente, o biquíni enfrentou resistência e foi até mesmo banido em alguns países devido ao seu caráter considerado demasiado revelador.
No entanto, ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais aceite e popular, especialmente com o apoio de figuras famosas da moda e do entretenimento.
Na década de 50, o biquíni é exibido no corpo de actrizes como Brigitte Bardot, mas ainda é rejeitado pela maior parte das mulheres. Pois as mulheres nesta época, eram muito contidas e recatadas.
Demorou ainda algum tempo, para que o biquíni se tornasse numa peça comum, tanto que inicialmente foi proibido em muitas praias.
Apogeu do Biquíni nos anos 60
Só nos anos 60 é que realmente o biquíni alcançou o seu auge.
Foi nesta década que Ursula Andress emergiu do mar com o conhecido e infame biquíni branco no filme da saga 007, Dr. No.

Ursula Andress na saga 007 // CNN.com
Foi também a década em que Raquel Welch usou um biquíni feito com peles de animais em One Million Years B.C e também quando Nancy Sinatra apareceu na capa do LP Sugar vestida com um biquíni rosa chiclete brilhante.
Os anos 60 libertaram o corpo e a mente do tradicionalismo das gerações passadas.
As praias foram invadidas por estes adolescentes com sede de diversão e nesta época nasceu o turismo de massa.
Monokini
A moda foi, entretanto, avançando. O monokini– apresentado por Rudi Gernreich – abriu caminho para o topless na década de 70… Modelos sem forro ou com a forma de triângulos fizeram furor…

Monokini – Vogue
Os próprios materiais evoluíram de uma forma extraordinária sendo a licra, em 1959, uma das maiores inovações: mantinha a sua forma, não desbotava e secava rapidamente.
Popularidade do Biquíni
A popularidade do biquíni continuou a aumentar na década de 1970, com tecidos como o crochê (veja-se Pam Grier em Coffy). De Pat Cleveland a Cheryl Tiegs, sem esquecer o trio original dos Anjos de Charlie, poucos foram aqueles que resistiram ao fascinio do biquíni.
A democratização do biquíni em Portugal, aconteceu com a Revolução dos cravos no dia 25 de Abril de 1974, que permitiu posteriormente o uso livre desta peça.
Na década de 1980, Phoebe Cates, do filme Fast Times in Ridgemont High, fez do biquíni vermelho uma peça cobiçada.
Com a chegada dos anos 90, foram explorados muitos estilos, do modelo mais sporty ao mais minimalista que mal poderia ser chamado de biquíni (como o micro biquíni da Chanel, apresentado em 1996).

Micro biquíni da Chanel // Alexis Duclos/Getty Images
O que é imediatamente claro é que a história do biquíni é também a história do corpo: uma história de carne, censura, provocação e, cada vez mais de algumas expectativas frustradas.
Ainda hoje, muitas das figuras que popularizaram o biquíni aos olhos do público foram aquelas cujo físico era considerado aspiracional, em conformidade com um conjunto culturalmente limitado de padrões de beleza.
Talvez o biquíni seja algo que existe nos olhos de quem o vê. Esta peça, que para uns tem sido uma ousada afirmação das liberdadas e das indumentárias, tornou-se, para outros, um símbolo do olhar masculino omnipresente e das pressões depositadas nas mulheres.
Seja pela discussão sobre a necessidade de uma maior inclusão aquando do casting das modelos que exibem na passerelle roupa de praia, seja pela hediondez de expressões como “bikini body”, seja pelas batalhas legais sobre o direito das mulheres muçulmanas em usar burkinis, o biquíni ainda não está totalmente em paz.
Não existe uma peça do vestuário feminino tão pequena e com tanto para contar como o biquíni.

Crédito Fotográfico: suburban men
A história das roupas que usamos na praia e na piscina cruza-se com as conquistas de libertação das mulheres que percorreu todo o século XX e continua a surpreender.
As restrições, as obrigações, os tabus e tantas interrogações a que as mulheres estão sujeitas, desde sempre, tiveram muita influência na evolução da roupa de banho feminina.
Hoje, há de tudo um pouco. Mais reduzidos, mais discretos, estampados, lisos, em licra, algodão ou em tricot, com ou sem alças, a escolha é muito variada. As grandes marcas nunca se esquecem de oferecer nas suas coleções, em cada Verão, os últimos modelos.

Fonte Fotográfica: Travel Caribou
De fatos que cobriam quase totalmente o corpo ao monoquini, escolher o que vestir à beira-mar tem sido uma verdadeira saga para as mulheres com tentativas arriscadas, retrocessos, glamour e muita criatividade.
Por isso o fato de banho e o biquíni estão intrinsecamente ligados à história da libertação e das conquistas femininas.
Hoje, tudo é permitido e uma simples ida à praia prova-nos que a liberdade flui ao sabor das tendências de moda e das preferências pessoais.
Fontes: artsandculture, mulherportuguesa, gizmodo, useamazona, Gralery
Olá, muitos parabéns pelo site estou adorar e a aprender muita coisa.
Os conteúdos são excelentes, bravo e boa continuação
Marisa
Olá Marisa!
Muito obrigada pelo seu comentário! Mais conteúdo a sair em breve. 😀